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Como uma pessoa com TOC vê o mundo? Em nova obra, escritor Luiz Otavio Santi reflete sobre pandemia e propõe uma pedagogia para o viver

Em “Casa voadora”, livro lançado pelo selo TAO, da editora Blucher, escritor paulistano faz um mergulho interior e reflete sobre a pandemia, o mundo contemporâneo e as possibilidades de uma vida mais saudável

foto do autor paulistano Luiz Otavio Santi

Graduado em Comunicação Social e Cinema, mestre em Comunicação e Semiótica e doutor em Psicologia Social, além de acupunturista, eutonista (eutonia), Santi busca traduzir, em seus escritos, a sua experiência com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) —  no Brasil, cerca de uma pessoa a cada 50 sofre TOC, que é definido por uma série de obsessões e manias que a pessoa apresenta na rotina. No livro, o autor constrói uma série de capítulos-casas que abrigam suas reflexões, dividindo cada capítulo com uma “casa” diferente. Assim, além da “Casa voadora”, a casa maior que dá título ao livro, temos também a própria montagem de “casas textuais” como “O mapa da casa”, “A abertura da casa”, “Casa pandêmica”, e assim por diante.

Escrever com TOC, mas também com os grandes mestres

Os escritos de Luiz Otavio Santi são poéticos, densos e verborrágicos. Como ele mesmo diz, nasceram da dor, mas não só da dor de conviver com TOC, mas também da convivência próxima com a arte, tanto do audiovisual quanto da poesia. Isto pode ser visto, por exemplo, quando Santi abre seus textos para pequenos exercícios poéticos, pequenos poemas que contam, narram e apontam para os temas que ele está analisando. Para o autor, este trabalho é resultado de um grande trabalho, de um livro que nasce mesmo de um trabalho exaustivo — “programático, assertivo, decisivo, persistente, determinado: 4 a 5 horas diárias, em média, sob uma espécie de ‘febre’”, como afirma  Andre Fratti Costa, no prefácio.

foto do autor paulistano Luiz Otavio Santi

“Foram 500 dias de propósito acompanhando as 500 mil mortes pelo Covid no Brasil”

O processo de escrita de Santi foi também atravessado pela pandemia, momento no qual grande parte de sua obra foi escrita: “Escrevi grande parte no período crítico da pandemia. Foram 500 dias de propósito acompanhando as 500 mil mortes pelo Covid no Brasil. Não sei se teria ou terei a mesma energia para consumir como na execução do ‘Casa Voadora’, fazendo outro livro.”

Entre livros e filmes, suas referências perpassam as obras “Caro Diário”, de Nani Moretti; “O homem que confundiu seu chapéu com a mulher”, de Oliver Sacks; “Dom Quixote”, de Cervantes; “Antropologia Estrutural”, de Claude Lévi-Strauss, “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, além de citar autores latino-americanos como Jorge Luis Borges, Machado de Assis, Marçal Aquino, entre outros.

E se é na literatura que Santi encontrou espaço para habitar suas casas, é porque o texto ainda é uma das formas mais potentes de conversas com as vozes do presente e do passado. “Se a literatura é uma das menos culpadas das atividades humanas, escrever e falar do mundo que se vê, assumindo o próprio ponto de vista, há de ser mais livre ainda”, frisa o escritor. E ao olhar para seu livro pronto, emendou: “Fiz 60 anos e chegou a hora de agir.”

Confira um trecho do livro (pág. 13):

“Não sei. Abro minha alma neste livro expondo minhas vísceras, meus estudos, minha doença – TOC, transtorno obsessivo compulsivo –  , minhas linguagem com o mundo e algumas experiências artístico-pedagógico-terapêuticas pessoais voltadas à observação – por que não ao meu desenvolvimento? – de nossas mentes e corpos, o que chamo de ‘corpomentalidade’.”

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